segunda-feira, 13 de junho de 2011

Igreja inclusiva: somos todos iguais


(um pouco de paciência e você conhecerá um  pouco da Teologia Inclusiva... boa leitura!)

Proposta de aceitação dos “excluídos” busca transformar o pensamento da sociedade

Metanóia – o termo de origem grega remete à expansão da mente ou, para os mais familiarizados com o significado da palavra, mudança de consciência.  Mas, na prática o que ela quer dizer? Algumas recentes teologias têm proposto essa, digamos, mudança de pensamento; a mais nova nessa caminhada é a Teologia Inclusiva. 

A primeira a importar o conceito para o Brasil foi a Igreja da Comunidade Metropolitana. A ideologia da ICM, que teve origem nos Estados Unidos, busca desenvolver uma comunidade onde todos, sem discriminação, são aceitos. “Comunidade cristã inclusiva não é uma comunidade que aceita gays, lésbicas e simpatizantes e ponto final; mas é uma comunidade que entende que a cristandade é muito mais que isso”, explica o reverendo Cristiano Valério. E menciona o texto de João 27: “que todos sejam um, assim como eu o Pai somos um”. 

Em princípio, essa é a principal diferencia dessa teologia, de acordo com o reverendo – transformar o pensamento das pessoas de maneira que elas entendam que o diferente não é uma ameaça, mas um modo de enriquecimento. 

“Na igreja da comunidade metropolitana nós não entendemos que o que é pentecostal é uma outra igreja, mas sim parte da fraternidade que se identifica com as manifestações pentecostais”, exemplifica o responsável pela ICM. 
Dessa forma a igreja de teologia inclusiva parece colocar para bem longe os motes da bandeira em favor do preconceito. 

“Não entendemos também que a ICM é a igreja de Cristo (no sentido que obtém a única verdade), nós entendemos que a ICM é parte da igreja cristã. Então quase sempre nos referimos aos nossos irmãos de outras denominações como sendo nossos irmãos batistas, presbiterianos, católicos, luteranos, metodistas. A diferença não nos ameaça, ela nos enriquece”. 

O ideal posiciona a igreja contra opressões religiosas, comenta o reverendo. Segundo ele, muitas denominações usam a religião como instrumento de poder. “Quando digo que Deus é um só, estou querendo dizer que esse Deus é o meu Deus”, exemplifica. “Na ICM, nós ressignificamos todas essas coisas, dizemos que Deus é um só e explicamos que esse um só Deus é chamado por diversos nomes, em diversas culturas, cultuado das mais diversas formas e nem por isso deixa de ser Deus”, completa. 

O reverendo salienta que a religião deve ser apenas um recurso didático para interpretar, ou melhor, vivenciar determinada crença. “Até o cristianismo é um recurso didático. Nós não somos nenhum pouquinho melhores que os nossos irmãos islâmicos, por exemplo, somos diferentes. E para nós a diferença não ameaça”. 

Homossexualidade e casamento 

No último dia 5 de maio, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o casamento civil entre homossexuais e a relação homoafetiva como unidade familiar. Valério fala que a medida foi uma grande vitória para os gays, mas que isso não muda o que já existia entre eles. 

“Entendemos que casamento é quando duas pessoas decidem dividir os sonhos, a vida, as responsabilidades, e essa decisão independe de reconhecimento legal. O reconheci mento do casamento homossexual é o reconhecimento de algo que já existia, desde que o mundo é mundo”, pontuou.  

Porém, o reverendo ressalta que trata-se de uma vitória diante da sociedade. Nenhuma comunidade gay, lembra ele, lutava para a liberação do matrimônio – o casamento feito pela igreja – e sim pela igualdade de direitos diante do Estado.
“Era uma luta por direitos civis, pelo que é legal, pelo cidadão. O STF não criou um direito novo, ele apenas reconheceu por meio da interpretação da nossa constituição que não existia motivos para considerar homossexuais como pessoas de segunda classe”. 

“A constituição diz que todo cidadão é igual perante a lei. Agora, a igreja tem a liberdade  religiosa, na qual o Estado não pode interferir”, comenta. 

O reverendo observa que alguns líderes religiosos mal intencionados se aproveitam de membros mal informados em suas igrejas para manipular as pessoas contra a lei. “Falam, por exemplo, da ideia de que eles devem ir contra a lei porque, se não, serão obrigados a celebrar o casamento dentro da igreja. Isso é um absurdo”, diz. E acrescenta: “até porque, diga-se de passagem, os gays também têm denominações religiosas que os acolhem e não é só a Comunidade Metropolitana, têm outras”.

Preconceito e Religião

Muitas pessoas utilizam textos bíblicos para embasar a tese de que Deus não aceita os homossexuais. O reverendo diz que é preciso fazer uma análise desses textos. “Existem mais de vinte passagens que também embasam a ideia de que Deus é contra o divórcio. E todos aceitam o divórcio com uma facilidade muito grande”. 

“O que acontece muitas vezes, principalmente com respeito aos fundamentalistas, é que absolutizam aquilo que interessa e relativizam também algumas coisas que interessam”.  Ele diz que o texto bíblico jamais pode ser seguido totalmente ao pé da letra, e o fundamentalista, por mais que o seja,  nunca vai seguir o texto literalmente, em um todo. 

“Se fossemos seguir,  haveria problemas muito sérios. Levítico diz quando uma criança desobedece o pai ela deve ser apedrejada até a morte, assim como uma mulher que casasse sem ser virgem”, detalha.
“As igrejas que não guardam o sábado vão dizer: isso era naquele tempo, antes do tempo da graça. Elas vão relativizar, vão fazer uma leitura histórico-critica apenas daquilo que lhes convém. O que acontece na ICM é que fazemos uma leitura histórico-crítica de tudo”, observa.

Ele ressalta que todo o livro deve ser lido a partir da ótica de Jesus.  O problema, conforme ressaltou,  é que as pessoas tiram o texto do seu contexto para chegar a um pretexto e condenar e  usar a religião como instrumento de poder.
E diz que a Bíblia fala de amor entre duas pessoas do mesmo sexo. “Mas amor está para muito além do sexo. O problema é que as pessoas reduzem tudo à genitália e eu sou contra essa ideia”. 

O problema da sociedade, vê a ACM,  não é que ela é anti-homossexual, o problema é que ela é machista. “A nossa sociedade e a igreja contemporânea não gosta das mulheres, entende? O indivíduo heterossexual que escolhe uma profissão dita feminina, cabeleireiro, por exemplo, também vai ser vítima de preconceito porque não é pelo que ele faz entre quatro paredes é pelo que ele representa socialmente. O feminino é visto como algo menor, algo que deve ser colocado pra baixo, como menos”, diz. 

“Eu trabalho no sentido que as pessoas tenham uma visão mais cristã, a cada dia, em relação à homossexualidade, mas pra isso eu sei que as pessoas precisam lutar contra o machismo interiorizado, que faz com que elas tenham um modo equivocado de vida. Esse machismo hegemônico é que causa a homofobia. O problema todo está mais para a questão do machismo que para a questão da homossexualidade”, salienta. “Não existe nenhuma ‘guerra’, tentamos na verdade descontruir alguns pensamentos e fazer entender que Cristianismo é amor”, conclui, fazendo lembrar da metanóia.

Por: Eliane Leite