Se choro é porque reconheço a minha sensibilidade diante do fato causador das lágrimas e não luto para retê-las no meu íntimo, agravando a minha dor.
Coloco-as à fora, na esperança de lavar a alma, de limpar o que me agride.
O choro revela a vida, suscetível às turbulências as quais estamos sujeitos.
A lágrima também revela doçura, sensibilidade.
Não, não é possível se sujeitar a viver sem elas, por mais que se queira. Desculpe!
Não há garantias que, em razão das dores já sofridas, das lágrimas já derramadas, não se vá chorá-las novamente. Impossível prometer isso. Desculpe!
Se fosse possível essa promessa, haveria, de fato, ainda, uma muralha firme e forte contra o amor, contra a vida.
Não, não é possível dizer não a elas. Chorar significa que no amanhã é possível sorrir; um seria praticamente impossível sem o outro.
A ausência de choro também pode ser falta de sentimentos para celebrar. Não, é quase impossível viver sem isso.
Não preciso evitar as lágrimas, preciso saber, apenas, que é possível ser feliz mesmo que elas existam.
A lágrima é também uma forma de expressar a mais completa alegria, a mais sincera, entre amores, pais, amigos e irmãos.
Chorar é, muitas vezes, medo de perder, mas ao perder reconhecer a grandeza da liberdade.
Chorar pode representar, ainda, a esperança de que o mais simples sonho pode ser realizado.
Chorar pode representar dúvidas, desespero, tristeza, frustração; mas ta
mbém pode ser a certeza, a paz de espírito, a alegria e a conquista.
Chorar pode ser bom ou ruim; mas acima de tudo revela que estamos vivos, dispostos e suscetíveis a intensidade da vida. E não há bem maior no mundo que o presente de viver.
Por isso, não viva uma vida buscando se privar de lágrimas, mas deixe-as fluir, rolar, aprendendo a viver em paz com a presença delas, se preciso for.