sábado, 23 de agosto de 2008

O medo da perda

No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. I João 4.18

Me questionei muito sobre essa passagem bíblica nos últimos dias. Me questionei porque as duas últimas semanas, com um breve intervalo de três dias, foram de temor para mim. Me deparei em uma recepção de hospital sozinha, em uma madrugada vazia, enquanto em algum departamento desse lugar pavoroso meu pai lutava para fugir da morte.

Entrei, pela primeira vez, em uma Unidade de Terapia Intensiva, coisa que só tinha visto em filme. Fiquei chocada e, mais abalada ainda, quando percebi que quase não consegui conversar com um dos homens que mais amo na vida. Ele quase não me reconhecia. Não sei explicar o que senti. Como nesses momentos a mente humana não trabalha bem, somente esperava o pior.

Comecei a pensar nas várias coisas que fizemos juntos. Lembrei dos vários sorvetes que tomamos, das andadas de bicicleta, das vezes que ele bateu corda para eu e meus irmãos pular, das vezes que me levou para escola, das vezes que brigou comigo. Lembrei de tudo, de tudo que me deu e de tudo que me negou.

E hoje, só penso em como não gostaria de perdê-lo, embora já não tenhamos uma rotina diária juntos. Gostaria de ter a certeza que vou proporcionar a ele e meus futuros filhos a feliz convivência entre avô e netos, da qual infelizmente fui privada.

Gostaria de ter a certeza de que vamos passar mais Natais juntos, de que ainda teremos vários almoços dos Dias dos Pais, de que vamos caminhar em um dia ensolarado, em um parque bonito, juntos pela primeira vez, de que vamos assistir mais jogos do Brasil, e de que ele vai entrar comigo na Igreja no dia do meu casamento.

Tenho medo... muito medo de que nada disso aconteça. Se hoje eu pudesse abrir a cabeça dele e colocar alguma coisa dentro, com certeza, colocaria a convicção de que ele tem que se cuidar, de que a vida é a coisa mais preciosa que temos e colocaria o desejo de vivenciar comigo todas as coisas que quero vivenciar com ele; não que eu duvide que ele também queira, mas colocaria a vontade de lutar por isso.

Um comentário:

"É melhor ser alegre que ser triste..." disse...

Eli,

Q texto lindo.
Amei.
Espero q o seu pai esteja melhor.

Bjs