A questão do acostumar-se com o pouco ou quase nada acaba com nossa autoestima. Acaba com qualquer possibilidade de relacionamento. Primeiro porque a relação em si começa doente. Um que não pode ou não quer dar quase nada e, outro – carente – que aceita o pouco, ou melhor, as migalhas.
Parece normal? Sabe aquele ditado “ruim com ele pior sem ele”? Pois é, tem muita gente vivendo assim. Com essa dinâmica, essa tônica. Imagine que se perderem essa sua única fonte de “restos” vão ficar à deriva. Famintos, impotentes, sem poder…
Receber migalhas afeta nossa autoestima e com o tempo vamos achando que é isso o que merecemos. Que não nascemos para ser totalmente felizes. Que ok, podemos viver dessa maneira – mendigos ambulantes – à espreita do outro.
De uma distração sua, ou ainda quem sabe de um “raio” de consideração que esse apresenta vez ou outra. Você deve conhecer dezenas de pessoas que vivem exatamente como estou colocando. Infelizmente, caímos nessa armadilha.
Investimento
Começamos a relação para investir, achamos que tudo bem – se o outro não estiver totalmente inteiro, tocamos, deixamos o tempo passar e, quando acordamos, foram-se meses, anos, uma vida – num relacionamento infundado que nunca, nunca vai sair desse marasmo – até porque foi concebido dessa forma.
Bem, então, qual o nosso papel nessa relação? Encolher? Não cobrar, não atormentar o outro com nossos desejos, nossas inquietações, nossos sonhos? Deixar a vida passar? Não sorrir? Não incomodar?
Enfim, numa situação que beira o masoquismo – nosso papel se limita a acabar com nossa felicidade e, o pior, vivermos esfomeados com base na benevolência do outro – que pode ou não acontecer…
Arrastando-se
Qual o papel do outro nessa história além de ser complementar à nossa neurose? Continuar exatamente como sempre foi – ou seja, mesquinho, inseguro, indefinido, inconstante. Aquele que dá pouco, muito pouco, tão pouco que a relação pode se arrastar indefinidamente…
Preste atenção nisso. Ouvi esse comentário de um mestre esta semana: aquele que se preserva para viver relações paralelas ou que não tem condições de se abrir e viver uma história por inteiro não vive e não deixa viver.
Pode viver assim distribuindo afagos poucos indefinidamente – afinal, nada muda em suas vidas… Aquele que não está presente, não pode atender ao telefone, não pode te ver não está nem aí para suas necessidades. Não comparece e – perdoe-me – não são forcas ocultas que o impedem. Não são problemas ligados ao trabalho, à família, à vida, à frustração etc, etc…
Apenas entenda que este que não pode – NÃO QUER, NÃO TE ESCOLHEU, NÃO VAI ESCOLHER, NÃO VAI MUDAR… Vai manter tudo como uma história mais ou menos de amor… Ele pode mudar? Talvez. Quem sabe se um raio cair na sua cabeça e então – BINGO – la estará ele, pelo menos por um período, cheio de amor para dar…
O que pode ser esse raio? Um enfarto fulminante, um acidente, uma perda, um acordo daqueles do tipo – a companheira ou companheiro entram com o pé e ele… Bem, você sabe…
Ação
Parece duro, mas não! Não acontece. E então, o que fazer? Nesses casos podemos deixar tudo como está e parar de reclamar ou pensar em algumas alternativas para fazer o outro acordar e entrar de vez ou sair da relação. A questão é: estamos prontos para sair fora? Estamos prontos para começar de novo?
Se sim, podemos agir de diferentes formas para ver qual a reação do outro – o que acontece com a relação se mudarmos… Primeiro, podemos escolher esfriar para ver se o outro se liga que existimos de fato. E, então, quem sabe, possamos investir em resgatar sonhos, desejos, ou seja, mudar o foco… A vida agradece.
Segundo, podemos pressionar o outro de vez e dar um prazo, algo do tipo “basta”… E, por último, podemos ainda ROMPER. Por um ponto. Acabar. Terminar. Escolher viver outra historia. Outra vida, outra relação…
Fácil? Não. Não e nada fácil. E possível mesmo que seja necessária ajuda psicológica. Para sair de determinadas relações, precisamos recuperar a autoestima. E isso nem sempre é tão simples como parece…
De todo modo, todo passo demanda uma decisão, uma escolha. Depois, no nosso tempo, e só caminhar… Escolhas, sempre escolhas.
Da colunista Sandra Maia